A história deste novo Elsa & Fred, a bem da verdade, traz pouquíssimas diferenças em relação ao original, o espanhol Elsa & Fred – Um Amor de Paixão. A principal mudança fica a cargo do temperamento de Fred: se neste filme Christopher Plummer cria um personagem nitidamente rabugento e de mal com a vida, na versão espanhola cabe a Manuel Alexandre desenvolver um Alfredo mais melancólico, que sente de forma mais nítida o fato de, agora, estar só. Há novidades também nas subtramas, com a inserção de uma historieta envolvendo Picasso e coadjuvantes de pouco destaque, que no fundo não trazem mudança alguma à trama base.
Talvez Elsa & Fred não seja bom como o filme argentino, que não era bom como o de Fellini. Mas ao falar de uma mitômana (Elsa), para iluminar outro mitômano (Fellini), Radford fecha seu filme da maneira mais bela que há. O filme todo Elsa fala do desenho que Pablo (Picasso) teria feito dela. Para Fred é outra de suas mentiras, mas será? O grande luxo de Elsa & Fred está numa assinatura, a da trilha. Quando Nino Rota, seu ouvido musical, morreu, Fellini apelou a Luis Enriquez Bacalov para substituí-lo. Bacalov compôs a trilha de O Carteiro e o Poeta para Radford. Faz a trilha ‘felliniana’ de Elsa & Fred. E ah, sim, num álbum do começo dos anos 1990, Bacalov já reinventara Nino (Luis Bacalov Plays Nino Rota). Um filme com esse grau de carinho merece respeito.